Quando o assunto é Libertadores da América o Flamengo não tem nada a ensinar a ninguém. Nem a seus torcedores mais marrentos, que quando se metem a dar palestrinha sobre a competição continental lembram muito aqueles feministos de coque e barba desenhada explanando as vantagens do parto normal sobre a cesariana pra mulherada. Não sabemos absolutamente nada sobre Libertadores e até que a vençamos mais uma vez raramente seremos levados a sério na resenha. Reparem que o jogo de ontem foi apenas o nosso quinquagésimo no Maraca, nossa casa, numa competição que começamos a frequentar há 38 anos. O que dá uma embaraçosa média de 1,3 jogo por ano! Porra, vai comemorar o quê com esses números esquálidos?
Fodam-se os números, o Flamengo ganhou a segunda seguida na Libertadores. Pode comemorar. Por pouco não consegue um 3×0, placar cabalístico que o Mengão, salvo melhor memória, não reproduz na competição continental jogando em casa desde 23 de outubro de 1981 quando Zico, duas vezes, e Chiquinho deixaram 3 cocos no balaio do Deportivo Cali. Infelizmente, não rolou. Mas foi uma vitória gostosa, sob certos aspectos até tranquila, proporcionada pela maciez da carne assada que era a LDU. Jogo bom pra levantar o astral da torcida rubro-negra, que desde fevereiro tem sofrido um bocado com o girar impiedoso da roda da história.
Quando o juiz trilou o apito sinalizando o final da partida todo mundo tava amarradão. Não era pra menos, o Flamengo aplastou os universitários quiteños sem precisar fazer maiores esforços e fez 1×0 rapidamente. Quando o Flamengo está ganhando o rubro-negro de bem não quer guerra com ninguém. E naquela euforia de ver o Flamengo exercendo pleno domínio até o observador mais rigoroso tende a relaxar os seus critérios de julgamento e a distribuir levianamente elogios e notas 10 a qualquer perna-de-pau.
Durante o jogo ficou evidente que o Flamengo da Libertadores é muito melhor do que o Flamengo do Carioca. Talvez porque sem as paradas técnicas, bizarrice carioca necessária em defesa da salubridade, o time fique menos exposto às ideias do Abel. Eu mesmo, que sou desses nojentos que reclamam de tudo, tive dificuldades pra falar mal do Arão durante o jogo. Não porque como não tinha ninguém pra marcar, e ficou de graça lá na frente o tempo todo, fez várias presepadinhas como puxetas e calcanhas de grande efeito visual. Mas porque quando estamos ganhando de 3×0 geral é irmão e o Flamengo é muito lindo.
Mas basta uma breve análise crítica, sem palhaçadas, sobre o que o Flamengo e a LDU apresentaram em campo pra perceber que a vitória esteve sob risco e que a aparente tranquilidade proporcionada pelo placar foi ilusória. Viagem, doideira, fugazi. A real é que Arão brilhou porque ficou 85 minutos de puro lazer e nos 5 minutos que teve que marcar alguém porque Cuellar saiu mandou um chute suicida contra Diego Alves e logo depois tomamos um gol. Desculpem a rabugice, mas elogiar o Arão como um estroina não paga o meu aluguel.
Numa noite extraordinária em que tivemos a defesa jogando muito bem o time mostrou novamente sua maior fragilidade. Que não é tática ou técnica, mas anímica. O Flamengo, além de mostrar enorme dificuldade pra matar um jogo mole contra um adversário nitidamente intimidado pela atmosfera e pelo impactante apelo visual do fardamento rubro-negro, ainda repetiu o mesmo vacilo do jogo contra a vasca. Em mais uma preocupante demonstração da Síndrome do Déficit de Atenção fez outro pênalti no final do jogo.
É quase inacreditável que um elenco profissional com tamanha experiência, ontem, por exemplo, Leo Duarte era o único moleque em campo, dê um mole desses 3 vezes seguidas. É evidente que é um problema comportamental, pra ser resolvido com muita conversa e acompanhamento psicológico, não é com esporro e nem mandando os caras pagar flexão. O que preocupa é não saber se existe alguém no Flamengo plenamente capacitado pra levar um papo de alto nível com a rapaziada. Porque se esse alguém existisse essa conversa teria rolado depois do Flamengo x vasca e está claro que não rolou. Atenção comissão técnica: essa conversa TEM que rolar. Se não tiver ninguém na casa chamem alguém de fora.
Comemoremos, porque pra nós, patos novos de Libertadores, toda vitória é motivo de festa e chapação. Mas se você saiu do Maraca apaixonado pelo Arão, querendo mandar um engradado de cerveja pro Renê, uma caixa de Moet & Chandon pro Diego Alves ou indicar o Cuellar pro Ministério da Educação (por ser um colombiano especialista em desarmamento e melhor preparado que ao atual titular da pasta), segure a sua onda. Espere o time fazer o seu dever de casa, ou seja, ganhar as próximas duas no Maraca para só então, garantido pela segurança matemática dos 12 pontos em 18 possíveis, encher os caras de elogios, mesmo que exagerados. Para todos os efeitos eles apenas cumpriram com sua obrigação. E sem muito brilho. Era pra ter metido 6, no mínimo!
Por enquanto o único que merece elogios é o torcedor do Flamengo, que além de andar bem vestido e saber fazer festa como ninguém ainda leva a saúde, a educação e o desenvolvimento econômico por onde quer que passe. O mosaico tava foda.
Mengão Sempre
Porra, Arthur! Não nos traga para realidade. Está muito bom pensar que, depois da belíssima atuação contra o excelente time da LDU, seremos campeões mundiais.
#arãonaseleção#cuellarministrodaeducação
SRN
Foda-se, Arthur, se você não acha. Tu é o maior cronista rubro-negro da história.
Poxa zente, que gentil! Tu tá maluco. SRN
Concordo! SRN
Sempre realista e sem empolgação. Parabéns e SRN
Nem quero sabe se jogou bem ou mal, deixo essas firulas pros entendidos, só quero saber que esmagamos mais um seilaquém.
olá amigos !
que bom poder desfrutar da CIA do nosso querido arthur.
só pra constar eu estava fazendo parte do mosaico fodão.
na minha opinião as defesas do nosso goleirão mereciam um destaque maior que a atuação do arão…
ontem Diego alves me lembrou muito o bruno(melhor goleiro do flamengo em todos os tempos)o caldo poderia ter entornado se a penalidade fosse convertida.
apesar da total suplemacia rubro-negra.
grande abraço !
SRN !
Arthur Mulhemberg para ministro da educação!
Mais um lecture excelente para a coleção.
Cuellar está jogando muito, espero que termine o ano, mas não creio que permaneça para 2020, algum europeu vai levar em breve.
Diego tem muita disposição e profissionalismo, mas efetividade muito baixa está na escola de Zinho na Copa de 94, enceradeira.
Abraços!
Só não precisava esquerdar num texto sobre futebol.
Falar que o ministro da educação é um incompetente não é esquerdar, é atestar um fato. Sem choro.
Excelente texto, Arthur! Muita calma nessa hora porque já vimos esse filme, várias vezes…
Se me permite apenas uma observação, foi o 50° jogo no Maracanã. Ainda assim, concordo que é pouco para 38 anos de história.
Saudações Rubro Negras
Muito que bem !
Ótimas considerações, pois foi uma vitória mais do que justa e fácil, com uma exibição convincente afinal, mas o adversário foi pífio.
Ao contrário do zagueirão Luís Pereira, gostei muito da lembrança do nosso astro-mór, o Gustavo Cuellar (nome e sobrenome nesta hora se fazem necessários), para ocupar, no lugar do compatriota retardado, a pasta da Educação.
Colombiano por colombiano, não há a menor dúvida. Cuellar é muito mais competente.
Não sei se será oportuna a comparação, mas, para ser autêntico, vou em frente.
Fico impressionado ao ver, na parte da tarde, jogos da Champions, e, à noite, os da Libertadores.
Esportes diferentes, positivamente.
O ritmo dos jogos tem uma variação brutal, pois do ^alegro ma non troppo^ passamos ao ^andante^.
No passado, quando tínhamos em campo jogadores do quilate de Leandro, Júnior e Zico – para ficarmos apenas no Flamengo –
dizíamos exatamente ao contrário, ou seja, não poderia haver a menor comparação com os europeus de cintura dura ou os africanos de total desorganização coletiva, mesmo tendo xingado.
Nos jogos de ontem, tudo ao contrário, a começar pela procura insistente do objetivo, pois o gol é exatamente isso sem ter sido traduzido do inglês, e pela técnica individual dos jogadores.
Francamente, a enfiada do Salah para o terceiro gol do Liverpool de há muito não vejo nos nossos campos.
Saudosismo é uma merda, pois para a frente é que se anda.
A realidade, todavia, incomoda pra caralho.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
PS – Gustavo Cuellar para Ministro da Educação !!!!!!
Disse tudo meu amigo, não há paralelo hoje do futebol europeu com o nosso. Talvez mediocre seja a palavra p descrever o futebol em terra brasileira.
Nosso volante colombiano é bem mais lúcido que o ministro da Terra Média. E corre pelo time todo. Se o Arão ajudasse um pouco mais, aliviava o Cuellar e liberava o Diego pra fazer o que dele se espera, municiar o ataque e chegar mais perto da área. Com o tempo o Ronaldo poderia ganhar mais espaço e quem sabe melhorar a saída de bola da equipe.
Rapaz! Arthur sempre surpreendendo. Momentos de puro entusiasmo juvenil. Outros, de uma sabedoria da Velha Guarda – Muita calma nessa hora. É por aí. Aguardar as cenas dos próximos capítulos. É só lembrar da atuação fantástica contra o Grêmio ( titular) em Porto Alegre e as atuações sofríveis a posteriori.
Na minha confessada rabugice, não vou espinafrar ninguém. Como bem disse o sábio redator, em Vitória é melhor deixar quieto. Fora os treinamentos de finalização e a busca de um melgir rendimento defensivo , o treinador deveria colocar o uruguaio na titularidade.
Apenas uns pitacos para não perder o ritmo.
SRN
Mais uma resenha de estilo e lucidez!
Tirante a parte do Ministro, concordo full!