Futebol é muito bom, mas também é um terreno maravilhoso pra quando alguém quer ser idiota. Teve um pessoal que foi pra Buenos Aires torcer pro Flamengo e ficou muito puto com os torcedores do Independiente que os chamaram de macacos. A ofensa racista dos boludos nem é inédita, faz parte do pacote de quando jogamos com os times argentinos. Mas como neguim anda pilhadaço com a decisão valendo taça e adora se aparecer, apertaram o botão da indignação racial só um pouquinho.
Até que conferiu uma seriedade politicamente correta à zoação vulgar de sempre, o que não chega a ser uma vantagem. Principalmente porque é uma hipocrisia do caralho a gente, que faz parte de uma das sociedades mais racistas do planeta, ficar dando xilique de pluralismo étnico pra brigar com argentino e continuar a xingar os pretos locais de coisas bem piores que macaco. Tenho consciência que branco falando sobre racismo é como macho pontificando sobre dores de parto. Zero de empirismo e menos dez mil de relevância. Mas vou me arriscar no tema por mais um paragrafo.
Racismo é basicamente ignorância, uma variedade de discriminação social baseada no conceito bocó de que existem diferentes raças humanas e que uma é superior às outras. Neste assunto a única diferença cientificamente confirmada entre os humanos é que teve gente que foi educada pra ser racista, isto é paradoxal, estudaram pra ser ignorantes, e gente que não. Discriminar racialmente não é um instinto natural, não nasce com a pessoa, além de ser ignorante é preciso também ser treinado pra isso. E nesse campo da ignorância humana o argentino médio é bem desenvolvido, sabe de nada. Mas não chega a ser um inocente.
Mas não escorreguemos no piso molhado da hipocrisia, ignorância extrema sobre os vizinhos é uma duvidosa virtude que compartilhamos igualitariamente com os argentinos. Nós não temos a menor ideia de quem sejam esses caras que vem lá de Avellaneda, arrabalde que também não temos a menor ideia de onde fique. Para nós, brasileiros monoglotas, argentino é tudo igual, falam com sotaque porteño, não comem feijão e são chatos pra caralho. Do Independiente então, sabemos nada. Nem fazemos ideia que é um time que nasceu da vontade de jogar de uns moleques que eram sempre barrados nos jogos do Maipú Banfield, um time amador dos funça da loja A la ciudad de Londres, no bairro Montserrat. Por que nos interessaríamos por essa cultura inútil? Nos ufanamos da nossa ignorância e a cultivamos como se fosse uma tulipa premiada. Em esto tambiém somos hermanos.
Assim como eles não fazem a mínima ideia de com quem eles estão se metendo. O argentino olha pra gente como se nós, brasileiros, flamenguistas, tocadores de repinique, fossemos um povo homogêneo composto por só um tipo de macaco. Desconhecem nossas nuances étnicas e territoriais, são insensíveis à eufonia da nossa onomástica e à riqueza da nossa variedade dialetal. Os torcedores do Independiente olham pra Magnética e só conseguem ver o assustador monstro de 100 mil cabeças que urra no Maracanã. Não fazem ideia de que os seis jovens remadores que se enfiaram na baleeira Pheruza para enfrentar indomitamente a travessia da Baia da Guanabara no longínquo 1895 não estavam indo dar um rolê pra pegar as mina em Gragoatá. Eles estavam fundando uma Nação.
Esses otários que nos chamam de macacos nem desconfiam que logo abaixo da camada externa e unificadora de Flamengo, que aplaina as muitas diferenças entre os brasileiros, sem, contudo, obliterar nossas características próprias, estão os mulambos, jagunços que lutam até o final. Vão aprender a lição que ensina que o Flamengo é apenas um etnômino que designa um conjunto de povos organizados em múltiplas tribos pertencentes à família mulamba que se espalhou pela maior parte do Brasil a partir do fim do século XIX.
Os ignorantes platinos não têm a menor noção de que o Flamengo é a verdadeira nação dos mulambos, que a despeito da sua fluidez territorial possui características de um Estado soberano, incluindo um hino e relações diplomáticas com embaixadas e consulados espalhados pelo mundo. Mas eles amanhã, lá dentro do inferno rubro-negro, ouvindo aquele zumbido dentro da cabeça, sentindo a casca do Maracanã tremer, vão entender porque o lema do Flamengo, que poderia perfeitamente ser Non Ducor Duco (Não sou conduzido, conduzo), Tuitio Fidei et Obsequium Pauperum (Defesa da fé e assistência aos pobres) ou In Varietate Concordia (Unidos na diversidade) é o esclarecedor Porra, Caralho, Vai Tomar no Cu! Quem Manda Nessa Porra é a Torcida do Urubu, que nos traduz muito melhor.
Os alienígenas que chegaram antes ao Rio já estão vivendo a atmosfera sufocante que a nossa virtual onipresença na cidade provoca. Não tem pra onde o hermano correr. Não dá nem tempo pra se sentir ameaçado, quando perceberem já foram engolidos pelo monstro vermelho e preto e só lhes resta a esperança de serem mastigados com alguma misericórdia. Um sentimento nobre do adversário que duelistas experientes não devem, jamais, considerar como garantido. Ainda mais depois do inteligente investimento que eles fizeram neste relacionamento quando o Flamengo foi seu hóspede. Chegou a hora de resgatar as aplicações de curto prazo, pelotudos!
Que esta visita ao Planeta dos Macacos seja leve, breve e desgraçada para os argentinos. Porque no bonde da torcida do Flamengo é certo que o ritmo vai ser pesadão.
Mengão Sempre
Arthur,
Seus textos são fodásticos. Meu filho quer ser jornalista e eu mostro teus textos e digo: “é isso”.
Eles estão fodidos. Prevejo limpeza de copos, talheres e pratos com o genuíno catarro carioca. Esperma de amaciante nas toalhas. Furto de pertences no hotel. Fogos de artifício no modo on durante a madrugada. Sabugo no jogo. Ônibus apedrejado na ida e na volta. Esculacho no aeroporto e ridicularizações em geral. Era pra ser uma viagem a trabalho, mas o script é de filme de terror. Saudações rubro negras e macaquianas.
Bem escrito como sempre. Mas não sabia que o autor tinha se naturalizado paulista: “dar um rolÊ”??!!
Olha aí, meus muitos amigos e poucos inimigos, duas estorinhas da pré-historia.
Começo pelos anos 50, quando, pouco antes dos meus vinte anos, fui pela primeira vez à Argentina, sonho da garotada classe média do Rio de Janeiro.
Tinha um tio chamado Oswaldo, que morreu há quase 33 anos, mais branquela ainda do que eu.
Branco leitoso, do tipo germânico, aliás, honrando os ancestrais familiares, estes do séc. XIX.
Avisou-me, prestimoso.
Não se surpreenda. Eles são aqueles falsos educados, metidos a europeus, mas não mordem. Adoram nos chamar de ^Macaquitos^, pois entendem que, da nossa parte, não temos a menor personalidade, e vivemos a imitar a tudo e a todos.
Havia, no zoológico carioca, o famoso Macaco Tião, que, como uma de suas mais notáveis características, também vivia a imitar a tudo e a todos.
Quem viveu, se assim estiver vivo, poderá confirmar.
Pois bem. Não deu outra. Em diversas oportunidades, brindaram-me, apesar de desbotado, com o mesmíssimo xingamento – ^Macaquito^.
Como estava avisado, caguei e andei.
Alguns anos mais tarde, mais exatamente em 1964, para sorte minha, pelos prooblemas que vieram a surgir e todos sabem, fui fazer um Curso de Pós-Graduação na Suiça, mais precisamente em Genebra, no Instituto de Altos Estudos Sociais e Políticos.
Muito adequado, sem dúvida, para o que caminhávamos naquele exato ano.
Pois bem, o nosso Brasil era devidamente ESCULHAMBADO de cima a baixo.
Salvava-se o Pelé, um ídolo do Mundo.
De resto, ZERO A ESQUERDA.
Vivíamos, cabe explicar, um momento agudo na África. Independência para todos os lados. Lumumbá (o acento entrou de propósito, para destacar a pronúncia francesa) era idolatrado,
Em consequência, uma pá de estudantes da África Negra como colegas.
Koffi do Senegal (pegou o mesmo avião em que viajava, que, à época, fazia escala em Dakar), Koffi-Kouadio do Mali, Francisca da Nigéria, muitos e muitos, de saudosa memoria (epa !).
De início, por ser o Brasil uma antiga colônio de Portugal, que ainda mantinha Angola e Moçambique sob o seu tacão, olhavam-me com má vontade.
Graças ao FUTEBOL, exatamente o FUTEBOL, as barreiras foram sendo superadas, atingindo-se um bom grau de amizade.
Eis que, ao final do Curso, um aula especial sobre o problema do RACISMO.
Professor convidado só para a mesma, um especialista da Bélgica, considerado o Papa da matéria (lamentavelmente, não me recordo mais o nome).
Surpresa para todos, não para mim, vou ser rigorosamente SINCERO.
O bom homem falou, falou, falou e, ao final, PROCLAMOU. Se há UM país no Mundo todo em que este problema é bem menor do que em todos os demais, este Páis é o B R A S I L ! ! ! ! !.
Não preciso dizer que, se houvesse a possibilidade, teria soltado foguetes.
Imaginários, soltei em profusão.
Exatamente o Koffi-Kouadio procurou contestar o Mestre. Não é possível, afirmou. Colonizados por Portugal !
Aí o belga deitou e rolou. Abriram a guarda para ele.
E salve a MULATA brasileira, invenção dos portugueses ! ! ! !
No mais,
aguardemos amanhã.
SRN
FLAMENGO SEMPRE
PS – Nação Mulamba, um achado !
ATENÇÃO – Confirmado.
O Brujo Rojo, Manuel de Gorina, veio com a delegação do Independiente.
No mesmíssimo avião.
Pé de pato mangalô três vezes ! ! !
SRN
FLAMENGO SEMPRE
“Por mares nunca de antes navegados passaram ainda além da Taprobana, em perigos e guerras esforçados mais do que prometia a força humana, e entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram”.
Sem hesitar podemos afirmar que o eflúvio lauto que propagou-se na atmosfera da nossa plaga preta e vermelha é corolário ao glorioso denodo de nossa diretoria e a idiossincrasia da massa rubro-negra. Antes, perdidos no homizio da quimera, a escuridão esfacelava nossos sonhos e o medo era o propulsor de nossas injustiças teorizadas. Angustiados debruçávamos em nossas próprias elucubrações como se fossemos PHD’s na arte da estrutura futebolística, contendemos e até nos separamos ante a expectação do futuro, não obstante, jamais perdemos a esperança no Maior do Mundo e depositamos nas mãos dos engravatados os pecúlios do urubu. Hoje, num ufanismo exacerbado, das masmorras fustigantes de nossa parcimônia irrompemos em fúria vertiginosa para repousamos à sombra da imponente árvore plantada por esses caras da cúpula do Fuderosão.
Bem dizia Papai Smith: “não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu auto interesse.”
Nos prolegômenos do manual do torcedor não importam os precedentes, o que nós queremos é esbórnia e balbúrdia, talvez por isso a ansiedade nos fora justificável quando ouvíamos o som da buzina do “Longo Prazo” e o do “Planejamento” azucrinando o pavilhão auditivo. O que pouca gente sabe é que a Janota torcida do Perfurador das Galáxias é talentosa no quesito Sapato Diminuto e, como ninguém, acredita no Flamengo até quando o Flamengo não crê em si. Para o torcedor a máxima do “Deixou Chegar” é certa, absoluta, clara, categórica, taxativa, precisa, fatal e imperativa. E foi exatamente isso que aconteceu: o carequinha da cuca lustrada e seus amiguinhos chegaram de mansinho como quem não quer nada e foram botando ordem na fanfarra, e deu no que deu: o Flamengo chegou! Alegria da Nação! Tristeza, terror e angustia dos nossos inimigos, criaturas pusilânimes e desprezíveis oriundas dos dejetos do futebol masculino, pederastas safados, bando de infiéis que em breve serão extirpados e pisoteados e esmagados pelo urubu e voltarão para o esgoto de onde nunca deveriam ter saído, junto com as suas mães, aquelas vagabundas, doentes e prostitutas.
Agora nós vamos mostrar ao mundo quem nós somos!
Deixou Chegar, Fudeu! Porraaaa!!!!
Bora Mengão, macaco doido…
[…] Reprodução: Arthur Muhlenberg / República Paz & Amor […]
Arthur, você que goza de prestígio junto à torcida e à administração, peça lá para repetirem a estratégia de uma das finais contra o Vasco: a cada torcedor, um apito; toda vez que um _pelotudo_ pegar na bola, soprazzo nos ouvidos dos bonecos. Com o estádio cheio, será um show à parte, para eles entenderem que fomos corteses no jogo de ida, mas que o caneco já nasceu nosso.
” Tenho consciência que branco falando sobre racismo é como macho pontificando sobre dores de parto”
De acordo, mestre Muhlenberg.
Mas não podemos perder nunca a real dimensão das coisas.
Na Argentina, esse tipo de atitude é infinitamente mais comum, corriqueira e não-punida do que no Brasil. Quem conhece aquele canto do mundo, sabe disso.
O que – importante ressaltar sempre – NÃO NOS EXIME dos mil erros que cometemos com nossa população afro-descendente, como vc bem mencionou.
No entanto, não se esqueça que:
– Em estádio brasileiro, não se canta “São todos negros putos da Bolívia e do Paraguai”
– Não se canta “Eu às vezes me pergunto, negro sujo, que se você se banha” (pros torcedores do Boca Juniors, majoritariamente mestiços de indios com espanhóis)
– Não se celebram desastres naturais, como eles celebram quando jogam com o Chile.
– Não se estampa em capa de jornal coisas do tipo “QUE VENGAN LOS MACACOS” – referindo-se a sabemos quem.
– Não há revista de “humor’ falando de jogo contra o Brasil como a disputa dos “criollos” (eles) contra ‘los macacos’.
And so on.
Em uníssono. Milhares, muitas milhares de vozes. Mulheres, crianças, homens. De todas as classes sociais e níveis de instrução. Quem viu, sabe.
Muitos querem forçar falsas equivalências entre Brasil e Argentina quando se fala sobre esse assunto, sempre de modo a racionalizar e normalizar o que eles fazem, do tipo “não é tão bizarro, a gente também faz”.
Não faz. Queiram o que queiram, não faz. Não nesse nível, não com essa frequência.
E não faz por uma certa pressão social (o tal politicamente correto, que os fascistas gostam de dizer que é ditadura) e por legislação (racismo aqui é crime, e lá, acredite vc ou não, NÃO É). Por alguns condicionamentos culturais, pela ideia de nação que cada um tem. Há muito que dizer.
E nem vou tocar no tema da discriminação e do racismo além-estádio, nas relações laborais, no dia a dia, nas escolas deles, nas universidades deles. Das crianças, dos jovens, dos pobres não-brancos, ou pior: não-argentinos. Já vi tudo isso lá: é feio. Bem feio. Assusta até brasileiro, que vem, como você disse, de uma sociedade muito racista e preconceituosa.
Fale com eles sobre o assunto. Eles acham que é hiperssensibilidade nossa. Se rebatermos, dizendo que nossa indignação é a do resto do mundo, onde esse tipo de coisa não é aceito, eles ficam agressivos. Eu acho que é isso: nossa sensibilidade ao racismo é a mesma do mundo todo. As exceções são paises como eles , a Rússia e alguns outros poucos.
Claro, quando eles são o alvo, aí rejeitam a hiperssensibilidade. Veja a final da copa de 2014, quando os alemães pareciam estar imitando macacos na comemoração, e não estavam, mas para eles, era isso. Só faltou apedrejarem a embaixada alemã.
Isso não é “generalizar”, como alguns sonsos do politicamente correto gostam de jogar na nossa cara: é ter a REAL dimensão do problema.
E saber olhar a realidade é o primeiro passo para compreender de fato as coisas. E, se preciso, tentar mudá-las.
Como sempre, orgulho de ter vc no nosso bando, mestre Muhlenberg. Todos aprendemos demais contigo. Vc é um patrimônio rubro-negro.
Abraço agradecido de rubro-negro
* alguns sonsos do politicamente INcorreto
Para o bem do futebol Brasileiro o Flamengo tem que ser campeão!
Muitos pseudo comentaristas de futebol estão questionando em seus programetes se vale a pena mesmo sanar as dividas de um clube em detrimento de títulos, portanto mais do que nunca a vitória do Flamengo mostrará o caminho das pedras para todos os clubes que forem espertos para entender que chegou a hora de arrumar a casa financeira do futebol Brasileiro e assim trazer várisos de nossos craques de volta.
Se não abrirem os olhos a tempo, o Mengão fuderosão master do Universo vai doutrinar daqui pra frente, aí meu amigo, não digam que não tentamos avisar…
SRN.
Bora, Mengooooooo!!!!!