Não estou insinuando que seja um hábito frequente, mas já repararam que quando usamos aquele processador químico analógico que fica do lado de dentro da nossa caixa craniana para analisar a possibilidade de comparecer ao evento sócio-esportivo do tipo jogo do Flamengo, a ser realizado no progressista município norte-fluminense de Macaé no amigável horário de 21:45 h com transmissão direta pela TV aberta valendo pela segunda rodada do Campeonato Carioca de Futebol Masculino Adulto, alguns dos nossos neurônios agrupados no chamado Lobo Límbico de Broca, responsável pelo comportamento emocional e pela memória, apresentam a tendência de indicar, através de sentimentos do tipo raiva, medo, ansiedade e tédio, que esse tipo de passeio talvez não seja exatamente o programa mais salubre para a noite de uma quarta-feira pré-carnavalesca?

E se já aconteceu com você também, não se preocupe, é uma boa notícia. Significa que seu Sistema Límbico, cuja principal função é a integração de informações sensitivo-sensoriais com o estado psíquico interno, atribuindo um conteúdo afetivo aos estímulos e as relacionando com memórias pré-existentes, resultando em uma resposta emocional adequada, consciente ou vegetativa, está joinha. Porque, cá entre nós, esse Flamengo x Macaé de hoje à noite é programa recomendado exclusivamente a legionários, penitentes e portadores de carteirinha da FUNAI com as mensalidades em dia. Se você é daqueles que vai não ir não adianta invejar, é só pra ninja mesmo. Aos quais desde já deixo meus efusivos cumprimentos, porque sei que eles vão representar o vermelho preto com galhardia.

Mas nada de recriminações, nós, que não vamos em um jogo desses, de um campeonato desses, num dia como esse, numa hora dessas, nem à porrada, também temos nosso valor. Humildemente contribuiremos com as correntes pra frente, os todos-juntos-vamos e os vamos, Flamengo! à uma distância segura, na maciez de nossos sofás, garantindo a retaguarda de nossos domínios e a incontestável supremacia nos índices de audiência que são como os grãos do trigo que fazem o pão que alimenta o Flamengo. Se liguem nesse alô. Uma Nação vencedora se faz com homens e controles remotos. Cada um no seu quadrado.

Distribuídas as missões, divididas as responsabilidades, cabe a nós cumprir o cronograma e acabar de vez com a maldição do Flamengo não conseguir vencer em campeonato sem relevância no cenário nacional. Tem um bocado de preconceito no que acabei de dizer, mas não tem mentira. Eu aumento, mas não invento. O campeonato Carioca virou chacota em todo o Brasil, andam dizendo até que em vários estados os locais zoam o nosso campeonato apelidando de carioca o café fraco. Eu não tomo café, mas se esse boato for verdade é muita humilhação. Respeitem o pacto federativo, pelasacos!

Na atual fase de desenvolvimento do time do Flamengo nenhum resultado me pegará desprevenido. Estou preparado para tudo. Infelizmente los nuevos gringos ainda não possuem a Carteira de Trabalho e Previdência Social devidamente assinada pelos seus empregadores e não poderão estrear pelo Mais Querido. Uma pena, porque o futebol que Mancuello mostrou quando entrou nos amistosos agradou à exigente massa funkeira e Cuellar (eu não vi o DVD, mas minha mulher viu e disse que é muito bom) despertou uma enorme curiosidade neste mesmo grupo de pacatos cidadãos.

O que importa pra mim, nessa época do ano, é não deixar a cabeça esquentar por causa do Mengão. Praticar o desprendimento zen, meditar e me convencer a cada minuto que o carioqueta realmente não vale nada. Não posso deixar que FERJ tenha qualquer poder sobre o meu humor. Apesar de ter campeão todo ano, há muito tempo que o Carioca não tem vencedores.

Tirando o Flamengo e a Pedra da Gávea, que dão muita pinta de serem eternos, neste mundo estamos de passagem, sabemos que um dia, mais cedo ou mais tarde, com o corpo cheio de estrelas, nós todos vamos morrer. De susto, de bala ou vício. Mas, fiquem tranquilos, de Flamengo x Macaé na 2a rodada de campeonato meia-boca a gente não morre.

Mengão Sempre