Na época em que aprendi a gostar de futebol, não havia tanto espaço como há hoje para discussões envolvendo treinadores. Cansei de ouvir, por exemplo, meu pai dizer que técnico bom é o que não atrapalha. Versão mais estilosa da frase ganhou fama em 2011: irritados com as invencionices de Adílson Batista, torcedores santistas mandaram confeccionar uma faixa com o texto “Muito faz quem não estorva. Fora Adílson!” Preso à fachada de uma padaria na Praia do Embaré, em Santos, o protesto foi destaque nas páginas esportivas de sites e jornais do país inteiro, e acabou por colaborar para a queda do treinador. Respirando por aparelhos na Libertadores, o Santos dispensou Adílson, chamou Muricy Ramalho e levantou a taça.
Custo a crer que o período passado em Barcelona tenha sido suficiente para fazer de Muricy um técnico moderno e ousado – tomara que sim –, mas o ano passado mostrou a todos nós que o Flamengo precisa menos de modernidade e ousadia, e mais de respeito e seriedade. Duas coisas que Muricy cultiva, e das quais não abre mão.
Em 2015 defendi algumas vezes, na caixa de comentários do RP&A, que ao final da temporada o clube deveria partir para a contratação de alguém no estilo do Bielsa e do Sampaoli. Isso sim seria moderno e ousado, embora fosse, também, temerário: o atávico açodamento do torcedor de futebol no Brasil dificulta a implantação de novas filosofias, que sempre requerem prazos e paciência.
Discordo da tese por muitos abraçada no ano passado – inclusive por Eduardo Bandeira de Mello e Rodrigo Caetano – de que nosso time era bom no papel. Futebol se joga é no campo. Blogueiros vagabundos, categoria em que me enquadro, podem sacar desse papinho barato a fim de usar como desculpa, mas um cara regiamente remunerado para ocupar o cargo de Diretor Executivo de Futebol tem a obrigação de ser preciso na pontaria. Se não, dá cá metade que eu topo.
O outro lado da moeda nos leva à lembrança de que terminamos o Brasileirão em 12º lugar, com 32 pontos a menos que o Corinthians. Por mais críticos que sejamos, e somos, não é possível achar que havia no campeonato onze elencos superiores ao do Flamengo e que nosso time era 32 pontos pior que o do Corinthians. O Flamengo 2015 não tinha grandes qualidades, mas deixamos de ganhar pelo menos duas dezenas de pontos por falta de organização, de equilíbrio, de confiança e, claro, de respeito à camisa e seriedade profissional.
Muricy jamais foi uma sumidade tática, mas vejo uma exagerada crueldade na ironia do “muricybol”. Não acho justo acusar de só querer levantar bola na área o treinador que ganhou o Brasileirão de 2008 escalando, várias vezes, uma dupla de ataque com Borges e Dagoberto – o primeiro com 1,76m, o segundo com 1,75m. Técnico de clube arma o time com os jogadores de que dispõe, e se Muricy fosse tão dependente da bola aérea teria exigido do São Paulo um centroavante cabeçudo. Não o fez e foi campeão. Portanto, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Se Muricy está longe de ser um gênio da estratégia, me parece bem próximo de representar o perfil de técnico que o Flamengo precisa para pôr ordem na casa. (No dia seguinte à aparição do celerado Paulinho nas redes sociais, vestindo a camisa do Corinthians, acordamos com a notícia de que Muricy riscara o atacante dos planos para 2016. Bateu, levou.)
Com a esperada debandada no Corinthians, avalio que Atlético Mineiro e Palmeiras são os clubes que largam na frente para a temporada. Mas também acredito que, se conseguirmos acertar o nosso supostamente incorrigível sistema defensivo – é esse o maior desafio –, dá para brigar por títulos nacionais.
Bandeira de Mello já afirmou algumas vezes, obviamente em tom de brincadeira, que no dia em que o programa de sócio-torcedor rubro-negro atingir o mesmo percentual de adesões que tem o do Benfica (4%, o que em nosso caso daria algo em torno de 1,6 milhão de associados), poderemos sonhar com Messi, Neymar, Cristiano Ronaldo. Enquanto oscilarmos em torno dos vergonhosos 60 mil, só nos resta acordar e apostar. Rodinei e Willian Arão são apostas interessantes – mas, são apostas. Não sou exceção, e me coço todo com a manutenção da titularidade de Wallace e as precárias condições físicas de Juan. Há unanimidade na imprensa especializada quanto a Mancuello e Cuellar: nunca vi nenhum dos dois jogar, mas os jornalistas familiarizados com o futebol sul-americano garantem que ambos vêm para ser titulares de imediato. Também tenho esperança de que, trocando a influência de Nego do Borel pela de Muricy, Marcelo Cirino entenda que a profissão exige renúncias e volte a jogar bola. De todo modo, do meio para a frente há inúmeras possibilidades.
Resumindo e encerrando, não acho que Muricy seja capaz de fazer mágica. Mas, diante da indigência reinante no atual futebol brasileiro, ninguém precisa ser um David Blaine para transformar qualquer time minimamente razoável em campeão.
Basta trabalhar direito. E, pelo menos, esse é o slogan do homem.
PS: Tenho enorme simpatia pelo Santa Cruz, por causa da paixão e da fidelidade da torcida, de dois amigos pernambucanos com quem tive a alegria de trabalhar aqui em São Caetano – Deco e Heitor, ambos torcedores do Santinha –, e por ser o grande rival do usurpador-mor. A simpatia cresceu com a faixa que eles esticaram ontem no Arruda, corroborando que 87 é nosso. Não seria adequado que a Taça Chico Science, uma homenagem ao que houve de mais inovador e instigante na música brasileira nos últimos vinte anos, ficasse distante da terra do grande artista. Chico Science torcia para o Santa Cruz. Nada mais justo.
Murtinho. Estão sacados do time o Titico e Bibico. Juan jogou pacaraí, e o Wallace, arrebntou!
Venham crianças, nada de reclamação, venham tomar engrossante. É de ‘Ovomaltine, porras …!
Bibico, pegue aqui a chupeta e todo mundo pra cama!
Edvan-Alagoinhas-Ba.
PS – Mas que o Lilico é melhor do que o Rodinei…É…!!
É justo, meu querido Edvan.
Só uma pergunta: por que nenhuma menção ao gol que Gabriel salvou em cima da linha, ainda no primeiro tempo, com Paulo Victor já batido?
Será que o menino baiano está na posição errada?
Abração.
Taí boa lembrança, Murtinho. No meu time, sai o Lilico da lateral e entra o Gabriel. Já jogou no Bahêa por ali.
Edvan-Alagoinhas-Ba.
PS – Dizer que o Gabriel jogou mal é CULHUDA…!!
Só há um rubro-negro de respeito no país e todos sabem qual é. 87 é de vocês =D
Grande Deco! Meu querido Deco! Gente boa demais!
Olha aí, rapaziada: esse é o Deco citado no PS do post, justificando mais uma vez minhas enormes simpatias pelo Santinha.
Valeu, meu camarada. Abraço grande. Paz e Amor.
ANO NOVO, TREINADOR NOVO E VELHAS RUINDADES
A cada novo final melancólico de temporada no Flamengo, a minha principal preocupação para a seguinte (sempre achamos que será melhor) não passa por prováveis e possíveis contratações. O meu único interesse é no tamanho da “Barca Rubronegra” e a quantidade de passageiros. Já escrevi isso por aqui várias vezes. E a gente fica nessa abstinência futebolística durante um mês e pouco de pré-temporada, apenas acompanhando os fuxicos do mercado da bola e aguardando alguma novidade boa nos primeiros amistosos. Pelo menos um mínimo de organização tática e uma defesa menos vulnerável. Afinal o Flamengo contratou Muricy Ramalho, o melhor treinador do Brasil, quiçá do mundo, um dos maiores arrumadores de defesa que se tem notícia no universo ludopédico.
Aí vem o primeiro amistoso contra o “poderoso” Ceará, uma equipe que escapou por um triz do rebaixamento para a Série C, que desmontou praticamente todo o time da Série B do ano passado e contratou outro, entrosamento zero. E o que é que vemos pelos lados do novo Flamengo de Muricy? As mesmas velhas ruindades de sempre. A “Barca Rubronegra” de fim de ano zarpou praticamente vazia. Do “Bonde da Stela”, que a diretoria havia prometido se livrar, só saiu Paulinho. Continuam por lá, já organizando o calendário festivo para 2016, Allan Patrick, Pará, Éverton e Marcelo Cirino. Desse último ainda dá para se esperar alguma coisa. No jogo contra o Ceará, os quatro estiveram em campo. Não vou nem comentar sobre o vexame que foi a derrota para o Santa Cruz. Juan, pasmem, conseguiu fazer um pênalti em Grafite e até o portentoso Arthur (lembram dele?) fez gol. E a grande esperança do torcedor de finalmente se ver livre da ruindade crônica de Márcio Araújo com a chegada de um novo treinador se esvaiu ainda nos primeiros dias de 2016. O “troço” foi titular nos dois jogos no Nordeste (3 a 3 contra o Ceará e derrota por 3 a 1 para o Santa Cruz) e já está escalado para a estreia na Primeira Liga hoje contra o Atlético Mineiro. Quero nem ver o tamanho da “peia”. A defesa com os dois mortos dentro das calças, Wallace e Juan, continua uma peneira. Wallace levou um baile de Siloé (inferniza a vida do Flamengo desde os seus tempos de Horizonte – 2011) no jogo contra o Ceará e falhou em todos os gols que o Flamengo sofreu nesses dois jogos no Nordeste, mesmo quando não estava em campo. Juan é de dar dó. Não tem a mínima condição de encarar qualquer jogo valendo alguma coisa. O Inter só não renovou seu contrato porque viu que ele já havia encerrado a carreira. Vamos continuar esperando que Emerson faça tudo sozinho e não apronte tanta confusão como no ano passado e que Guerrero justifique a dinheirama gasta com ele. Nem de pênalti em decisão por pênaltis ele consegue fazer gol. E lá se vão cinco meses de secura. E ainda estão por lá Jonas, Gabriel, Douglas Baggio, Canteros…. Entra ano e sai ano e Éderson continua fazendo trabalho de recondicionamento físico. Marcelo Cirino sentiu um desconforto na coxa após o jogo contra o Santa Cruz. Quer dizer: “tudo como dantes no quartel de Abrantes” (essa é velha!). E tomara que esses dois gringos Mancuello (argentino) e Cuellar (colombiano) não sejam mais um mico rubro-negro com a contratação de jogadores sulamericanos. Precisa citar algumas das últimas contratações de gringos pela diretoria rubro-negra? Não, né? Eu de minha parte, não boto muita fé. E vamos pra frente que eu quero é meus 45 pontos!
Mais em: http://www.marcotuliotudo.com.
Fala, Marco. Bom te rever por aqui.
Como sempre, concordo com algumas coisas, discordo de outras.
Concordo:
1) Com Muricy podemos ter o mínimo de organização tática e defesa menos vulnerável.
2) Vamos comer poeira se insistirmos na dupla de zaga com Wallace e Juan.
3) Márcio Araújo merece o troféu de Operário Padrão (acho que você não pegou esse tempo), uma carta de agradecimento pela dedicação demonstrada e votos de seja feliz.
4) Apesar de ter escrito o oposto no post (e de acreditar na opinião de quem acompanha o futebol sul-americano muito mais do que eu), também desconfio das nossas gringas contratações, devido ao dedo podre que demonstramos nas últimas oportunidades.
Discordo:
1) Independentemente do que possa ter acontecido neles, os jogos contra Ceará e Santa Cruz não devem ser levados em conta. Serviram apenas para tirar o mofo.
2) Não dá para montar uma barca tão grande e ter que começar tudo do zero. Dispensamos uma defesa inteira (Ayrton, Marcelo, Samir e Armero), dois meio-campistas (Luiz Antônio e Almir), um atacante (Paulinho). Poderiam ter saído mais uns dois ou três? Com certeza. Mas contratar não tá fácil, e é melhor recomeçar do um do que do zero.
3) Pará, Cirino, Everton, Alan Patrick: ou acreditamos que Muricy é o cara certo para botá-los na linha, ou para tudo e vamos acompanhar luta greco-romana.
4) Não sei se boto muita fé. (Fé não é o meu forte.) Mas acho que pode dar certo.
Grande abraço. SRN. Paz e Amor.
RP&A a plenos pulmões!
Arthurzão de volta, Murtinho esmerilhando como sempre, Vivi poetizando lindamente, Nivinha com dancinha e barriguinha à mostra, além da opinião aguçada. Como dizia o clássico narrador: É disso que o povo gosta!
Sobre o time:
Apesar da falha no último gol, Muralha deixou ótima impressão contra o Santa Cruz. Por mim, é, ou deverá ser em breve, titular.
Pará não merece estar em campo mais do que eu, por exemplo, que nem nas peladas do bairro tenho vez. Rodinei titular.
Wallace. Simboliza o time o time tecnicamente e/ou emocionalmente incapaz de 2015. Fora. O tal zagueiro classe A titular já.
Juan. Vejo mais importância como liderança de grupo do que em campo. Reserva. O que nos obriga a contar com César Martins ou contratar outro zagueiro de bom nível. Acho (ao mesmo tempo duvidando) que com continuidade esse César Martins pode não ser um inútil completo.
Chiquinho mais efetivo em meia partida do que Jorge em todo 2015. Jorge parece sempre um tom abaixo em termos de entrega, intensidade. Meio desligadão. Técnica inquestionável, mas precisamos bem mais de entrega que de técnica agora (Aqui é trabalho!). Chiquinho titular. Nem que seja pra fazer o Jorge acordar pra vida.
Cuéllar. Argumentos são desnecessários. Márcio Araújo e Jonas banco, senão bilhete azul, já!
Mancuello. Mesma situação de Cuéllar. Concorrência desleal.
Ederson. Com continuidade, tem potencial pra ser ídolo. Allan Patrick banco.
Cirino pela direita. Se tiver mesmo recebido uma transfusão de sangue, tem tudo pra arrebentar.
Sheik pela esquerda. Menos pior que Everton.
Guerrero. Esperança que dê o retorno esportivo (gols) e financeiro (virar ídolo, movimentar o marketing, levar torcedor ao estádio) que dele se espera.
Fala, Pedro.
A análise me parece boa. Não posso concordar ou discordar porque, como tasquei lá no post, não vi nenhum dos dois jogos.
De todo modo, também acho que vamos precisar mesmo de dois bons zagueiros, a não ser que Rafael Dumas deslanche e Léo Duarte suba cheio de moral. Mas acho apressado.
Quanto ao RP&A, é isso aí. Nada de pré-temporada. Força total. Que o Muricy nos leia, porque aqui é trabalho.
Grande abraço. SRN. Paz e Amor.
Rapaz, durante a partida ontem lembrei: Esqueci William Arão.
O cara tá mandando super bem. Tem vaga pra ele.
Meu time: (uma alegria: vai ficar difícil escalar o time titular sem gerar controvérsia)
Muralha
Rodinei – Zagueiro X – Juan – Chiquinho
William Arão – Cuéllar
Mancuello – Ederson
Guerrero – Sheik
Exato, Pedro.
Foi mais ou menos isso que eu quis dizer no post, quando escrevi que do meio pra frente há inúmeras possibilidades.
Quanto mais difícil, melhor.
Abração. SRN. Paz e Amor.
murtinho,
vou torcer muito para vc estar presente no próximo encontro da confraria,assim como o arthur e a nivinha.
SRN !
Meu querido Chacal.
Farei o possível pra rever vocês.
E agora então, que Bill Duba e Rasiko estão ameaçando uma parceria musical? Se os dois puderem ir (Bill Duba já disse que estará rondando a área), a Gávea vai tremer. O Leblon nunca mais será o mesmo.
Grande abraço. SRN. Paz e Amor.
Jorge meu querido, não sei se dessa vez vai dar tempo de aprontar a maquiagem,. O Lúcifer me disse que seria dia 20 de fevereiro e meu filho tá chegando da Holanda pra ficar no Rio por uns 4 meses num intercâmbio. Dependo da agenda dele. O ideal pra mim é ir quando ele já tiver chegado. Mas tô super a fim.
Mudando de assunto, como tá indo o Tico, ops, o Teco na sua mão?
Grande abraço de um contente por ter você de volta.
srnp&a
Caro Rasiko.
Um passarinho me contou que Lúcifer está pensando em trocar a data para 27. A questão é que também tem Bill Duba, que chega de Miami no início de fevereiro e não sei até quando fica.
Eu não queria estar na pele do Presidente: ele tem que rebolar para conseguir ajustar as agendas de todo mundo e fazer o melhor possível. Vamos ver no que vai dar.
Uai! Achei que já tinha te respondido sobre Tico e Teco. (Devo ter feito alguma cagada, pra variar, na hora de mandar o e-mail.) Divertidíssimo. Só não gostei muito dessa história de ter o Tico na minha mão. Tô velho demais pra mudar de time.
Abração. SRN. Paz e Amor.