Domingo o ano do Flamengo finalmente começou. Da maneira mais kosher possível, metendo o trigésimo oitavo Carioca. Que também não é motivo pra grandes tirações de onda, já que não passava de uma obrigação, nem dinheiro dá. Mas foi bom voltar a gritar É Campeão!, manter nossa faminta torcida parcialmente saciada, os adversários nativos devidamente enquadrados e reafirmar o nosso respeito máximo pela cosmogonia do futebol. Com forças elementais da natureza nem o Flamengo tem o direito de ficar de sacanagem.
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Alguns poderão dizer que na verdade o ano do Flamengo começou na terça-feira passada, em Bogotá, onde disputamos o primeiro jogo à vera do ano. Mas o empate com o Millonarios foi tão anticlimático que é mais jogo estabelecermos o marco temporal no domingão mesmo, com o Maraca cheio e a torcida mais feliz que pinto no lixo, pra usar uma figura de José Bispo Clementino dos Santos, o Jamelão.
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A torcida tava feliz pelo título, óbvio, mas também pelo fim de uma competição que muito custa ao Flamengo. Sai caro demais ser campeão carioca, porque o preço da glória discutível tem que ser pago com o que o Flamengo tem de mais precioso, tempo. Tempo roubado à uma preparação mais eficiente do elenco, tempo roubado dos torcedores. Já vai longe a época em que se podia justificar uma ausência, um atraso ou uma procrastinação qualquer alegando que tinha jogo do Flamengo pelo Carioca. Hoje em dia se meter essa vai soar meio retardado.
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Mas agora não restam mais dúvidas, a temporada começou e o Flamengo tá cheio de serviço. Na quarta já voltamos à Libertadores recebendo o Palestino no Maraca. Tudo indica que vai ser o jogo mais mole da fase de grupos, porém jamais devemos desconsiderar o potencial avacalhativo do Flamengo, capaz tanto da proeza alquímica de transformar chumbo em ouro como de realizar o processo inverso. Muitas vezes no intervalo de 90 minutos.
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Contudo, o Flamengo que vem sendo construído sob a supervisão de Tite desde o ano passado não parece ser um time muito vocacionado para a produção de surpresas. A fixação do treinador no e-qui-lí-brio resultou num Flamengo incapaz de contrariar o bom senso. No Brasileiro do ano passado e no Carioca desse ano o time confirmou, jogo após jogo, com monótona regularidade, tudo o que gato-mestres, palestrinhas e corneteiros previram ou ameaçaram.
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É um time sólido, que marca muito e dá pouca chance pro adversário ficar com ideias de chutar ao nosso gol. Melhor dizer que parece ser um time sólido, já que só foi testado no meio ambiente café-com-leite do nosso rural. E quando se viu diante da potência que ocupa o nono lugar do campeonato colombiano essa tal solidez meio que foi pras cucuias, os colombia se fartaram de chutar contra o nosso gol.
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Por essas e por outras que sou contra o Carioca, droga recreativa leve que sobe muito rápido à cabeça, felizmente seu efeito é passageiro e a realidade dá logo uma martelada de Thor na nossa cara. É no campo do real que o Flamengo vai disputar a sua quarta Libertadores e nesse campo a única fórmula do sucesso é ganhar de todo mundo e não perder pra ninguém.
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Por isso conseguir os três pontos contra o Palestino é mais obrigação ainda do que ganhar o carioqueta. Jogando em casa contra os caras que tão levando pisa do Coquimbo, do Cobresal e do Huachipato a vitória maiúscula é a única opção moralmente aceitável. Se o Flamengo todo fodão ricão papaizão da América não for capaz de golear os chile no Maraca e fazer um saldo bom, qual a serventia de ser financeiramente saudável e fiscalmente exemplar? Que voltemos ao que éramos antes e saciemos a nossa nostalgie de la boue, a saudade da lama, que nas palavras do dramaturgo Émile Augier, é a atração pela degradação da vida inferior.
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Tudo o que o Flamengo conseguiu em 2024, ainda que infle o espírito da torcida e coloque a imprensa esportiva da ponta feia da Dutra em pânico, é nada diante do muito que há pra ser conquistado. Aquela vibe “Não ganhamos porra nenhuma! Parem de show!” não é rabugenta, é realista. E não existe doideira maior que a realidade. Vale a pena se orgulhar de ser Flamengo pelo simples fato do Flamengo ser o Flamengo. Mas é muito mais maneiro se orgulhar quando Flamengo oprime, submete e atormenta a arco-íris, não por ser imenso, mas por ser bom. Ou mau. Tanto faz.
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Mengão Sempre
Que seja o primeiro título do ano! E que Tite tenha sabedoria para escalar o time para vencer tudo que competir sem abrir mão de nenhum título.
HEEEEE’S BAAAAACK!!!!
Ele voltou! Tremei, Gotham
Que bom você de volta Arthurzão!
Tudo só começando, mas a vaia da torcida aos dirigentes exibidos, o pedido ensurdecedor de Bruno Henrique no segundo tempo, garantem que a torcida não tá cochilando não. Carioqueta não vai nos enganar! Isso aqui é Flamengo!
SRN!
Vamos por mais, Arthurzão! Carioqueta foi so o aquecimento do grito de campeão do ano!!
Estou na torcida sempre pelo nosso mengão e agora também pela sua pronta recuperação!
Te acompanho por aqui, desde a epoca com a nivinha, e também no podcast ge flamengo.
Sou seu fã
Saudações rubro negras ❤️❤️🖤🖤
Feliz 2024, mulambada! Acabou a palhaçadinha.