Se o jogo de ontem no Maraca fosse um Jabberwocky, o gigantesco Augusto de Campos poderia traduzi-lo assim:
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Urubudarte
Era mulambrilho. Os crioranos amalgamers
moleculavam e ocupeviam no gramengo.
Estavam batuquevendo as oportunações,
E os cenoários davam tiltos.
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Mas o jogo de ontem era só um Flamengo x São Paulo pela vagabundérrima segunda rodada do Brasileiro, não era um dos maiores poemas nonsense da língua inglesa publicado por Lewis Carroll em 1871 no Alice No País dos Espelhos. O que de certa forma é até uma sorte para todos nós, já que ainda faltam 36 rodadas pro Brasileiro acabar e estamos em meio a uma irreversível falta de Augusto de Campos para traduzir Jabberwockyes em Jaguadartes a cada domingo.
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Depois desse nariz de cera epicamente desnecessário não nos resta alternativa a não ser abordar mais uma etapa que o Flamengo venceu rumo à sua reabilitação. Muitas vezes, no calor da cornetada, os torcedores mais mercuriais esquecem dessa condição do Flamengo. É uma condição transitória, mas o Flamengo é o time que em 2021 conseguiu a façanha de perder tudo.
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Numa sociedade capitalista em que só o sucesso é aceitável e o fracasso é tóxico a única alternativa para aquele que busca a redenção é a vitória. O treinador chegou agora. Não interessa, tem que ganhar! Os jogadores tão se machucando toda hora. Não interessa, tem que ganhar! Mas tem uns malandro de sacanagem. Não interessa, tem que ganhar!
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Tem que ganhar! Nem que para alcançar a vitória o Flamengo precise se reconstruir pedaço por pedaço. E até mesmo os pedaços que não estavam quebrados precisam de uma geral para voltar a funcionar com a precisão e confiabilidade que hoje se exige. O trabalho ainda está longe de terminar, mas começa a apresentar resultados.
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Desde a fatídica final do carioqueta, para muitas vozes na minha cabeça o enterro oficial do Flamengo de Jorge Jesus, o time de Paulo Sousa vem evoluindo a cada jogo. Brilho, coletivamente falando, ainda não rolou, mas a eficiência tem aumentado inegavelmente. E os torcedores de boa vontade já conseguem enxergar até alguns traços de autoralidade nesse Flamengo de Paulo Sousa.
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Quando o time tá marcando lá em cima, pressionando o adversário como pressionou o São Paulo no primeiro tempo, com os atacantes mais próximos uns dos outros é possível até entrar naqueles delírios de dominação hegemônica do cenário nacional. Cuja fórmula para a alcançar já conhecemos: tem que ganhar da paulistada, principalmente no Maracanã. Verifiquem em seus arquivos, depois que o Flamengo se habituou a dar coças nos três patetas paulistas em bases anuais, isso começou em 2018, já ganhamos dois Brasileiros e fomos 2º em dois. Não tá ótimo, mas ruim não tá.
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Outro sinal que também facilita visões psicotrópicas da esperada Era Flamengo é o jeito adulto com que os novinhos têm jogado. João Gomes é craque notório, se der mole voa na próxima janela e só volta em 2032 e Lázaro tá seguindo o mesmo caminho. Paulo Sousa tá mandando muito bem em dar moral pros crias, afinal, o tempo é implacável e vai ser tudo deles mesmo.
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Mas enquanto o crepúsculo não chega quem garante o leite das crianças são nossos craques consagrados. Arrascaeta, Everton Ribeiro e Gabigol, que melhoram a cada dia, jogaram muito contra os tricolores, com e sem bola, se movendo muito em campo e baratinando a defesa dos caras. Verdade que continuam com aquela velha mania de perder gol como se fossem filhos de milionários, mas é muito melhor pro karma ser perdulário do que ser mão de porco.
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A evolução gradual é meio chata, mas não engana ninguém. Se o Flamengo tivesse convertido todas as chances que criou durante o jogo e brindado a torcida com um chocolataço de Páscoa os efeitos narcóticos da goleada iam acabar acordando o oba-oba, moleque acapetado que tá quietinho lá, dormindo de sapatinho de algodão. Deixa o menino dormir.
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Já passamos por essa experiência alucinógena das goleadas com Renight, a onda é ótima, mas a rebordosa é humilhante. Preferível ganhar de pouquinho e melhorar a cada jogo. Até pra poder ser marrento no médio prazo é preciso ter humildade. Pelo menos de humildade a torcida do Flamengo entende.
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Mengão Sempre
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MEU PALPITE PARA AMANHÃ….
3X0 PRO MENGÃO
SRN !
Lá pelos idos de 1956, quando tinha 18 anos e acabaraq de ingressar na F.N.D., para receber a desejada carteirinha de intelectual era necessário ler Joyce.
Tentei, não consegui.
Uma segunda chance se demonstrasse conhecimento a respeito da poesia do Feiosão, o maranhense arretado Ferreira Gullar, à época casado com minha amiga Thereza Aragão.
Tentei, não consegui. Chato pra caralho.
Última chance, Augusto de Campos.
Impossível tolerar, para meu gosto, sendo bastante sincero.
Não consegui a carteirinha.
Mudei para a filosofica, que seria uma praia bem mais bela, até porque fazia parte do nosso grupo o genial Leandro Konder e o imortal Ivan Nóbrega Junqueira.
Mesmo assim, não deu para me garantir a imortalidade, que, se tivesse acontecido, estaria hoje, com tantos anos nas costas, bem mais tranquilo.
Todos já morreram, até o imortal, menos o Augusto, salvo engano, que já tem mais de noventa.
Não ganhei a carteirinha, não me tornei imortal, deixei o Augusto de lado, pois jamais irei entendê-lo.
Missão, ao que parece, facilmente superada pelo Grão Mestre e pelo Xisto, em flagrante traição ao Lima Barreto, esse sim, dos meus queridos.
Dito isso, passo de imediato ao jogo de futebol, que é o que nos interessa.
Gostei bastante, percebendo uma inquestionável evolução tática no nosso time.
Fico puto de raiva com nossos Entendidos Jornalistas.
Até o MCP, provavelmente pela má companhia televisiva atual, virou um chato de galochas.
Dono da verdade, sentenciou: Paulo Sousa errou mais uma vez, pois não poderia ter escalado o Hugo Idem.
Com a licença da má palavra, vá tomar … banho, digamos.
Deixem o português trabalhar, eis que é regiamente pago para tanto.
Se não der certo, quem é vaiado não sou eu, tampouco o MCP.
Bola pra frente, que na quarta o adversário é bem mais difícil.
Sem Augustos, Gullares, Mauros, mas com o … Santos, eu espero.
SRN, ainda em clima de espera.
FLAMENGO SEMPRE
Os vídeos pós jogos são muito bons, a empolgação exarcebada ou frustração estampada na face idem, mas esses posts com toda essa genialidade e sarcasmo na escrita por oras me dá uns tilts nas idéias, acho maneiríssimo desde os tempos de urublog. Parabéns !
Que esse ano tenhamos boa sorte em todos os campos de nossa vida.
SRN
Caro Arthur, isso até parece transmimento de pensação, eu que ando por aqui às turras para entender alguma coisa do Finnegans Wake do Joyce, tendo como mediador o citado Augusto de Campos…
A verdade é que desde que a verdadeira temporada começou o Mengão está assim:
4 Jogos
3 Vitórias
1 Empate
Eu já venho falando que esse ano NO MÍNIMO a gente levanta um caneco.
Que bom que aliviaram a pressão pra cima do portuga, acredito que seja bom técnico. Flamimimi/FlaTT está insana esperando o primeiro tropeço para pedir a cabeça dele novamente. O que tem de nego que se diz flamenguista nessa terra chamada internet torcendo contra para ter razão é sacanagem.
É melhor ter paz do que ter razão.
SRN
Arthur, gosto muito dos teus vídeos e comentários podcastianos, mas eles são como o Flamengo de Ceni 2020: melhor que a concorrência, ganha o título sem muito esforço, mas quem conhece a história pregressa sente que não bastam pra satisfazer o rubro-negro médio. Já nos textos, meu camarada… daí o brilho é ineclipsável! As palavras parecem se conhecer há toda uma vida, jogam quase no automático, “pula uma casa, entra no 3”! Na verdade é lícito regressar até uns decênios mais na comparação, afinal são capitaneadas por um tal Arthur. Sem falar que são ainda flanqueadas por ótimas contribuições dos demais coautores desde blog. Não deixe de escrever regularmente aqui, por favor, senão ficamos como torcedor em intertemporada, em crise de abstinência, conjecturando “como seria se…”, mas sem nunca saber quando será o próximo espetáculo (e esculacho com a arcoirisada —mas seguimos na humildade). SRN.
Bom jogo, em termos.
Como todos estao vendo, é visivel que melhoramos.
Mas estamos longe do que podemos ser, convenhamos.
O pressing esta um pouco melhor, mas nao esta bem encaixado.
O meio deixa a desejar, quando se trata de defender. O Joao e o Thiago nao se entendem muito bem, ficam buracos imensos, recuam demais, até a linha de zagueiros. Parece que tb nao sabem o que fazer se os outros trocam de posiçoes.
A defesa melhorou tb, mas é dificil dizer o que fazem de errado eles mesmos, se o meio nao marca direito.
Certo é que querem agora empurrar a culpa, como sempre, no Rodinei, mas isso nao é aceitavel. O Rafinha tem ao redor dele um espaço de 5 metros ou mais sem ninguem marcando. ISSO é que é o problema. E, pela milesima vez, o centro vem da esquerda nossa, a famosa esquerda nossa onde joga o ex-jogador Filipe.
(Alias, o Filipe ontem fez talvez sua melhor partida desde que chegou. Na defesa ok, no meio como sempre quase nada, mas deu 2 passes compridos bons. E nao é que sabe fazer isso? Porque nao o faz mais vezes? Pelo menos pra subir a avaliaçao propria um pouco, po!)
Nao concordo com o Arthur que o Marinho entrou bem. Nao acho. Parecia até de sacanagem recuando bolas. O Pedro que o diga. Chutou bisonhamente pra fora no nosso gol do Arrasca e comemorou como se tivesse sido um passe.
O PS deixou ele um pouco mais livre, jogando tb pela direita, mas ele nao soube entrar no jogo.
Agora, o Hugo ….. de novo o garoto faz uma desses suas saidas-apagoes que poderia ter-nos custado o jogo. Nao sei se é mero nervosismo ou falta de experiencia ou outra coisa, mas repete esses lançes vez por vez. Para mim nao passa segurança. E nas bolas altas tb nao sabe o que fazer. Sei nao, continuo duvidando do garoto ter algo na vista, ser talvez um pouco vesgo? Aqui tem caroço.
Mas, no balanço, estamos melhores e melhorando. Ta na hora de termos os defensores comprados e os eternamente machucados de volta para ter-mos mais segurança atras e mais peças para poderem ser trocadas.
Proxima parada sao os porcos. Ai sim, vai ser de lascar.
Mas temos tudo para ganhar e continuar-mos melhorando.
SRN marromeno satisfeitas