Hoje só falta uma semana pro grande jogo de 2021. A grande final da Libertadores, cujos 90 minutos finais no gramado do Centenário serão apenas o grande complemento de uma campanha que começou em Buenos Aires com um improvável 3×2 no Velez Sarsfield e vem sendo jogada diariamente pela torcida desde abril.
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Foram sete meses em que os humores da Magnética oscilaram violentamente. Ficamos putos com o Ceni, aliviados com a sua saída, assustados com a chegada de Renato, sofremos com o complexo de superioridade provocado pelos inacreditáveis resultados nos mata-mata, nos decepcionamos com a queda de qualidade no Brasileiro e, desde a vitória sobre o Bahia, começamos a nos empolgar outra vez. Justamente quando o Flamengo mais precisa da nossa empolgação e da nossa confiança em volume máximo.
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Na quarta-feira, na vitória conquistada no último minuto contra o Corinthians no Maracanã, a torcida rubro-negra tomou a dose de reforço de confiança que lhe faltava. Ou podemos dizer que a torcida aplicou a dose de reforço de confiança que faltava ao time. Depende do referencial, mas a ordem dos fatores não altera o produto. Que é uma torcida ensandecida e um time com a moral lá no alto. Exatamente o que o Flamengo precisava pra viajar numa boa pra ser TRI da América.
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E pro Flamengo viajar numa boa rumo às terras estranhas e hostis nada melhor que a escolta de multidões bem vestidas cheias de amor pra dar. Multidões de rubro-negros da sua melhor estirpe, em sua maioria aqueles rubro-negros que as gestões profissionais e os preços de mercado, características de rigueur no futebol business importado sem as devidas adaptações à realidade econômica do país, afastaram fisicamente dos estádios.
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Mas esses rubro-negros, que são quase tão fãs do Flamengo quanto são de si mesmos, encontraram várias maneiras de furar esse teto de gastos artificial. Como mestres da arte do encontro os mulambos dão seus pulos e sem gastar um mísero real reproduzem nos mais inusitados locais a mesma atmosfera e a mesma vibração do cimento armado da arquibancada ou da geral mais raiz.
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O AeroFla nasceu em 2016, quando o Flamengo jogou 80% do Brasileiro fora do Rio, pra matar a saudade que a torcida sentia dela mesma. E como tudo que é tocado pelas mãos da torcida do Flamengo, o AeroFla floresceu e evoluiu. Tanto em forma quanto em conteúdo. Hoje se tornou um evento de ostentação esportiva, um luxo reservado para quem é fechado com o certo.
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E se existe uma tradição que merece ser consolidada o quanto antes é essa procissão ecumênica que conduz o time do Flamengo às finais da Libertadores. Em 1981 era tudo mais espontâneo e não existiam as redes sociais para convocar as massas, contratempo que foi contornado em 2019 e brilhantemente bisado na última sexta-feira quando o Flamengo partiu para os dois jogos no Uruguai do Norte que precedem a grande final do continente.
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As imagens do belo povo mulambo em movimento, quase carregando o ônibus do Flamengo nos ombros, fazendo de um translado banal uma epopeia épica e grandiosa, evocam o Círio de Nazaré. Um Círio de Nazaré profano, mais divertido e com um figurinista muito melhor. O AeroFla é, acima de tudo, uma demonstração de força, confiança e domínio dos corações e mentes em toda a Nação que apavora os adversários, antipatizantes e detratores em geral.
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A reprodução desenfreada das imagens do AeroFla em todos os meios de comunicação durante toda sua duração deixou a arcoirizada desesperada, em pânico impotente. Houve até quem tomado por forte emoção, e pelo evidente cagaço pelo que está por vir, falasse em selvageria, expondo publicamente seus mais recônditos desbrios.
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Como se desde o século XVI Rosseau, Tomas Morus, Erasmo de Rotterdam e Hobbes não tenham deixado muito bem esclarecidas as características humanas e morais superiores relacionadas ao estereotipo do bom selvagem não corrompido pelo processo civilizatório.
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Rubro-negros são selvagens, sim, não dá pra negar. Mas são bons selvagens, absolutamente conscientes do seu poder para anular os preconceitos, subverter as estruturas e modificar a sociedade para melhor. Como nos ensina a cultura zulu, o Flamengo e seu AeroFla são Ubuntu – que significa eu sou porque nós somos.
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O Flamengo é Ubuntu porque nós somos selvagens, indomáveis, anárquicos e livres. E empolgados com a aparente conspiração universal para que essa terceira Libertadores voe direto do Uruguai para a nossa magnifica sala de troféus lacustre na Gávea.
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Mesmo sendo selvagens não apoiamos a superstição, mas mantemos o dever cívico de preservar as tradições. À exemplo da trajetória mítica rumo à final da Libertadores de 2019, jogaremos com os castelhanos do Inter, depois pegamos os chimangos gremistas e por fim a grande final. Se melhorar estraga.
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Rumo ao TRI.
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Mengão Sempre
O que preocupa é o outro Flamengo, aquele dos segundos tempos que vira um renight mais Renight do que nunca e que já tem um codinome: trocação. Esse tal troca-troca ( olha a mente suja aí, rapaziada) pode ser bom para voyeur se masturbar, mas para quem tem Flamengo latejando na alma é uma tortura. E aí é que mora o perigo, se estivermos em dia de sorte, tudo bem, as nossas entram e as deles não, como aconteceu nos últimos jogos, isso não é jogo para o Flamengo nesse nível ou outro patamar a que chegamos. Temos que chegar ilesos no fim do apito do ladrão da vez ( ainda temos que contar com esses contras), sem sustos, ritmo cardiorrespiratório próximo do normal. Outra coisa, vocês acham que o portuga dos porcos não está pensando exatamente assim?
Embasbaquei.
Surgimos selvagens, ninguém contesta.
Devemos continuar a ser ?
Tenho minhas dúvidas, em que pese a colocação já feita pelo nosso Rasiko.
Início do ano de 1969.
No Maison de France, então ao lado da Faculdade Nacional de Filosofia, baluarte da resistência, tive a oportunidade de ver a extraordinária obra de Kubrich “2001 – Uma Odisséia no Espaço”.
Quem viu, jamais esquecerá do filme e da sua fantástica abertura.
Nossos antecedentes, ao som da abertura do poema sinfônico de Richard Strauss “Assim falou Zaratustra” (em homenagem à obra homônima de Nichezste) explodindo em violência, um grupo contra outro.
Sim, os hamens-macacos exarcebavam em violência.
Na evolução darwiniana, pouco mudou.
Com isto, temos que respeitar, até nossos dias, a selvageria, que continua sendo uma realidade ?
Sinceramente, não sei como me posicionar, embora tenha tendências contrárias.
É melhor, muito melhor, trazer as nossas preocupações para um aspecto mais restrito.
Vamos limitá-las para o grande jogo de sábado.
Já é muito.
SRN, em profunda dúvida.
FLAMENGO SEMPRE
Meu amigo, é só uma questão de ótica ou de como define o termo “Selvagem”. O selvagem original não tinha condicionamentos culturais – por isso puro e livre; a ironia é que os condicionamentos foram sendo criados pra domar o selvagem e em seu lugar se estabelecer as etiquetas e a hipocrisia, regras que se perpetuaram através dos tempos, mas que vão perdendo o sentido na base da pirâmide à medida que cresce a massa crítica consciente da manipulação e do controle. Selvagem é o torcedor que sobe na capota do ônibus ignorando consequências pra declarar sua paixão pelo Flamengo e recebe como prêmio passagem, estadia, transporte e alimentação pra assistir a final em Montevidéu. Selvagem é quem não se intimida com o poder autoritário porque confia em seu próprio poder. Foi isso que o torcedor fez – conscientemente ou não. Respeito, gentileza e generosidade são expressões naturais do bom selvagem, que vive e morre como um leão, jamais como um rato.
PS – Agradeço a indicação à AFL, mas prefiro apoiar o Arthur. Não tem na lista do Ladrilheiro ninguém que o supere em se tratando de literatura flamenga. Desde o Urublog arquivo tudo que ele escreve e estou sempre relendo pra aprender e evoluir na minha escrita. Ele é muito fora da caixa pra adotar postura de mestre ou professor, mas ensina pelo exemplo. O sorriso que não saia da cara ontem no podcast em contraste com a seriedade dos GEs, me fizeram desconfiar que tinha fumado um du bão e morri de inveja. Aqui não tem.
Texto fodástico, Arthur. Estávamos precisando e muito dessa empolgação e nada melhor do que a magnética pra tomar a iniciativa; é natural que, na terça contra o Grêmio não haverá jogo bonito. Importante frisar é que saiamos desse jogo sem nenhum jogador lesionado e sobretudo incentivado. Ainda temos algumas falhas a corrigir na recomposição da equipe; Torço para que a comissão técnica tenha competência pra elucidar o problema. Tudo conspira pra um desfecho feliz para nós; as boas coincidências estão aí pra nos alertar.
Saudações Rubro-Negras.
Começou a semana decisiva, selvagens.
São 4 vitórias seguidas, incluindo goleada dentro do Morumbi e vitória no Beira-Rio (com o time nitidamente se poupando no segundo tempo, só não vou isso quem não consegue enxergar um palmo diante do nariz), locais onde nosso retrospecto é pavoroso, além de uma vitória épica do nosso time C contra o Corinthians.
Nossos titulares estão todos à disposição, ainda que alguns ainda sem tanto ritmo.
Nossa sensacional dupla de zaga, além do cracaço Filipe Luís, estarão em campo.
Na frente, pode começar com Michael ou com Arrasca. Tanto faz. Um é craque e o outro é o melhor jogador do Flamengo na temporada.
Agora é na ponta dos dedos. Já deu tudo certo.
Vamos para mais uma contra os Porcos, com tudo para mais uma vitória de selvagem.
O resto será história.
Saudações
Pra desespero e admiração do meu pai, rubro-negro fanático, sempre fui um Selvagem, ensino meus alunos e clientes, como método de cura do corpo, mente e alma, a serem Selvagens, o xamanismo, origem, fonte e berço da medicina, é Selvagem. Ser Selvagem é ser puro e livre e seu único lema é Minha Vida, Minhas Regras. Não gosto de futebol, Amo o Flamengo.
PS – Na lista da Academia Flamenga de Letras faltou o nome do Arthur Muhlenberg. Falha imperdoável.
Parabéns pelo texto. Realmente emocionante. Obrigado! Flamengo até o fim!
Foram 20-25 minutos luminosos. Luxo puro.
4, 5 a zero poderia, deveria ter se concretizado.
Ai voltou, do nada, o futebol do Remanita. Nao empataram por algumas defesas boas e por sorte.
Se o jogo serviu de exemplo puramente, como vao dizer alguns, para teste para a liberta, temos alguns pontos a serem corrigidos:
Goleiro: algumas boas defesas, algumas saidas esdruxulas com os pés. Como nao temos outro, vai ter que ser com ele. Ele tem que estar muito mais concentrado.
Laterais: Nao gostei dos velhos. O chileno nao fez nada, a nao ser faltas a beira da nossa area, ja o idoso ofereceu a costumeira avenida, a nao marcaçao, a marcaçao errada (2 vezes seguida em cabeçadas de escanteio, enfim, uma nulidade) as mostras. Nada pra frente, nada pra tras. Deve se recuperar e pode ir de férias.
Obvio que Matheuzinho e Ramon deveriam jogar.
Volantes: A marcaçao nao esta bem encaixada com Arao e Andreas. Principalmente Andreas (que jogou bem, assim mesmo) deve tomar mais cuidado com os buracos.
Mas tem que ser esses dois. Se um sair, vai ficar dificil, porque T. Maia nao tem o fisico para um futebol rapido.
Meias: ER foi bom, mesmo abaixo do costumaz, Vitinho foi fominha e com os erros de passe conhecidos, abortando assim contra-ataques perigosos. Michael foi bom, mas errou tb demais, tentando dar pro Gabriel tudo e todas. Esse medinho dele deve acabar e começar a ter uma parte do egoismo do Vitinho. Nos faria bem, como ja mostrou.
Aqui entra o BH que é oto patama.
Arrasca: Sei nao. Nao sei se o tempo é suficiente para ele chegar em uma semana a poder estar muito bem e ser decisivo. Espero que sim, mas temo que nao. Entao tem que existir um plano B, que o Remanita deveria saber. Michael?
Entrando o Arrasca, sai quem? Ele nao vai conseguir fazer trabalho defensivo, quem fara por ele?
Acho melhor nao se concentrar nele e sim pensar nele como a cereja do bolo.
Gabriel: Esta bom, embora perdendo demais chances. O ataque esta quase 100%, um pouco de maior visao do companheiro livre – e pronto.
Adversario. Vimos que a rapidez de colocar bola no jogo de novo nos complica a vida. O Palmeiras aprendeu.
A recomposiçao nao é nosso forte e isso é nosso cancanhar de Aquiles.
Eh inprescendivel ter jogadores rapidos e fisicamente a 100% nos lados.
Bolas altas continuam um perigo, embora o David Luiz tenha melhorado isso bastante.
Agora é descansar e treinar (ai, meu deus) … temos tudo pra ganhar. Basta nao ter um dia de azar.
SRN
Gosto muito dos seus textos, mas essa conceito de bom selvagem é uma imbecilidade, não precisa ir longe, aqui mesmo e na América central e do Norte os Índios guerreavam entre si mesmo antes dos Europeus chegarem, África, nem se fala. Rousseau, era conhecido como aquele que “amava a humanidade mas odiava seu próximo”, e isso faz sentido quando observo seus influenciados da atualidade, aqueles que querem salvar o mundo mas não arrumam nem a própria cama. Fora isso…..SRN…..e vamos assar um porco no próximo sábado.
Muhlenberg, o Euclides da Cunha flamengo! (Sem peruca de touro hehe)
Obrigado Arthur, por mais brilhante texto, valeu!!!
Sim, é isso: o Contrato Social, representado por esses nomes, nos define perfeitamente!
Obs.; Amo os paralelos históricos e políticos-sociais dos seus textos…estava sentindo falta.
Queria até repetir o meu último post, mas seu rico texto merece novas invocações rubro-negras. Claro que conhecer a história do manto sagrado e suas conquistas emociona a mais frígida alma, mas podem conferir que estas sempre ocorreram após o sinergismo energético entre a torcida e o elenco, assim acredito que a centelha reacendeu mais uma vez e a nação começa o seu árduo trabalho fazendo a sua parte. Nenhuma novidade e muita confiança. Mengão Sempre!!!!!!
Ótimo texto SRN
Deja vu das leituras do Urublog, quando o conheci e passei a curtir o q escreve… mandou bem demais xará de craque! Leitura obrigatória após o AeroFla, tipo uma sobremesa kkk
SRN
Sério, essas palavras causam ereção fálica na alma. Coisa maravilhosa.
Pra quem nao entendeu a parte do Selvagem, ontem durante a cobertura do Sportv, o jornalista Thiago Benevenutte durante o Tá na Area nos chamou de selvagens durante o AeroFla. Mais racista impossível essa é a verdade.
Bravo !!!
A essência foi alcançada com tais palavras. Isso aqui é “muito” Flamengo!
O quadro com o texto emoldurado já está à venda?
Sensacional!!! Esplêndido parabéns…
Inter, Grêmio, final única… mesma sequência de 2019. Se isso não é um sinal dos céus, não sei mais definir.
Para completar a sequência temos o reencontro com a magnética no Maraca com o Ceará após o passaporte para estar em Dubai. Dejavu de 2019 que não deixa dúvidas.
Saudações rubro-negras!