Levei praticamente uma semana pra organizar os pensamentos depois do primeiro jogo do Flamengo na semi da Libertadores. A torcida do Flamengo e seus satélites não perderão jamais a sua capacidade de confundir as massas. A vitória foi tranquila, com baixíssimo grau de sofrimento e com aquele placar exato para impedir o surgimento de focos infecciosos do pandêmico Oba-Oba rubro-negro. Um placar tão antisséptico que provocou um grave efeito colateral, uma rejeição ostensiva à maneira em que o Flamengo vinha passando o rodo e fazendo 54 gols em seus últimos 18 jogos. Segundo esses críticos, todos eles frutos exclusivos das individualidades.

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Ao fim do jogo contra o Barcelona no Maracanã o Flamengo estava a tão somente 90 minutos da sua terceira final da Libertadores na história e levando uma vantagem considerável para o segundo jogo em Guayaquil. Mas para muita gente o Flamengo não mereceu a vitória e o ano de 2021 estava praticamente perdido, porque o Flamengo não tem esquema, o Renato é taticamente tosco e no jogo de volta só com muita sorte resistiremos ao ferozes carne-assada em seus domínios equatorianos.

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Falar sobre o que aconteceu dentro de campo no Maracanã na quarta-feira tornou-se secundário diante das antevisões de dilúvios, ciclones e terra se abrindo e tragando o Flamengo para todo o sempre em direção às profundas da vala comum dos times de pelada.

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O extremo pragmatismo do Flamengo ao resolver o jogo importante pra cacete sem maiores dramas e abdicar da performance exuberante para cuidar do placar favorável acabou se confundindo com a incapacidade tática da equipe, incapaz de ditar os ritmos da partida contra um adversário oriundo de prateleiras menos nobres no mercadinho do futebol sulamericano.

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A quinta-feira, que deveria ser ao menos de reconhecimento aliviado da torcida por mais uma etapa vencida rumo ao TRI tão almejado, acabou virando uma lavação de roupa desenfreada porque os alecrim dourado descobriram, indignados, que o Renight é discípulo aplicado da escola tática vamolaporrista. Um escândalo sem sentido, isso nem notícia é. Quem leu com atenção as instruções de uso na embalagem do Renato sabia o que o Flamengo estava comprando. Aí os cara não leem o fine print, ficam esperando o Rinus Michels redivivo e quando ele não aparece ficam putinhos. Nos poupem, Renato é isso aí que o Flamengo tá entregando e um pouco de folclore.

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Como esse boitatá de que ele não gosta de Brasileiro e privilegia as Copas. Ele fazia isso mesmo quando treinava Fluminense, Bahia e Grêmio, times com elencos curtos e sem maiores obrigações com as vitórias. Se naqueles valhacoutos de perebas Renight poupou foi por necessidade. No Flamengo, com elencos parrudos e caríssimos é evidente que ele vai poupar por ideologia e porque tem que rodar o elenco, os artistas têm que ir pro palco, o show tem que continuar. É semifinal de Libertadores contra o Barcelona, amigos, não é semi de Taça Rio contra o Cardoso Moreira.

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Mas segundo a Novíssima Ética Esportiva (coisa que tem 7 ou 8 dias de vida) isso tá errado, não pode mais poupar jogador no Brasileiro antes de semi de Libertadores. Isto é, os caras que afirmam que o Flamengo sobrevive em três competições foda unicamente devido ao talento das individualidades se enfureceu exatamente porque Renato poupou essas individualidades que não nosso único recurso de um jogo merda de pequeno valor relativo. Mas não nos preocupemos, se um arrombado qualquer quebrar a perna de uma dessas individualidades pela 19ª rodada do Brasileiro e desfalcar o time na final da Liberta esse jênios procuram outro culpado rapidinho. O pior é que vão achar.

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No domingo fomos à BH e empatamos com o América pelo Brasileiro com apenas dois titulares em campo. Chororô foi intenso, a orelha do Renight esquentou antes mesmo do jogo começar. O que foi tremendamente burro e injusto. Mas depois que a bola rolou Renato mereceu cada impropério com que foi saudado, o Flamengo jogou tremendamente mal. Renato escalou o time quem nem a cara dele, não soube reagir ao jogo muquirana do América e se enrolou, principalmente na cozinha, em que não tinha nenhum dos adultos pra botar ordem no bagulho.

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O Flamengo deu uma sorte incrível de ter arrumado um gol de Michael já no fim do jogo, inclusive mais um golaço. Mas o bagulho tava tão desorganizado e torto que no finalzinho os Minas deram um aperto e a defesa abriu o bico. Gol no finalzinho é sintoma de óbvia desatenção. Mas quem pode culpar um jogador por não estar 100% focado numa pelada de amargar dois dias antes do jogo da vida deles? O empate foi doído, mas deu feições mais justas ao placar de um jogo em que o Flamengo fez tudo que pode pra perder. Futebol é assim mesmo, tem dias que nada dá certo e em outros dá tudo errado.

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O jogo foi uma droga (no mau sentido), só não foi pior que o chororô amplificado que o seguiu por longuíssimas e intermináveis horas (outra desvantagem de marcar jogo de futebol pra horário de comprar carvão). Foi o zênite narrativo de todos os cornetas, profissionais, amadores e trollers, que viram com satisfação suas terríveis previsões de decadência técnica e moral do Flamengo se confirmando.

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Os cara têm certeza que o certo era escalar a nata do futebol continental pra se fuder debaixo do Sol de meio dia de Belo Horizonte e que como isso não foi feito (porque seria uma decisão incontestavelmente burra) decretaram que o Flamengo desistiu do Brasileiro. Devem ser os mesmo zé ruela que nos tempos de luta achavam que escalar reserva no Carioca antes de jogo da Liberta era herético e anticristão. A carta do Eu Avisei! tinha que ser extinta do baralho.  

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Assim se criou aquele climinha ideal pra apoiar o time que tá indo pro Equador dar um passo gigante, histórico e memorável. Em vez da tradicional tiração de onda, aquela marra rubro-negra genuína, filha da confiança e, ao menos, a simulação de apoio incondicional aos nossos mulambos de ouro, temos um monte de connaisseur fazendo biquinho pra dizer que o cru não é lá essas coisas.  Quando o devoto reza pra São Judas Tadeu proteger o Flamengo dos seus seguidores o devoto não tá de bobeira, não.

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Estamos na antessala do jogo mais importante da história do Flamengo e por mais que nos esforcemos em valorizar as outras competições nas quais o Flamengo segue vivo, mesmo as somando ou multiplicando, elas não chegam a uma ínfima fração do significado de um TRI da Libertadores. Nesse contexto, o Brasileiro, que não deixou de ser uma obrigação, é uma miudeza, uma mesquinharia a qual poderemos voltar nossa atenção depois de resolvida essa bronca Libertadores. Não sejamos merrequeiros. Agora é hora de pensar grande, hora de pensar Flamengo. Cresçamos.

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Mengão Sempre