Há verbo mais bonito na língua portuguesa do que “flanar”? Flanar abala, e no último livro de Ruy Castro o jovem leitor aprende que a palavra foi inventada por João do Rio, que assim a definiu: “Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado à vadiagem”… O carioca flanador, assim como o carioca flamengo, é um especialista na arte de se divertir de bolso vazio.

Pois outro dia estava eu em pé no metrô, a cara de basbaque e o vírus da observação pululando no corpo, quando, num estalo, percebi enfim como enriquecer.

A inspiração, no caso, veio como sempre de um livro – que era lido com atenção por uma moreninha de cabelos escorridos sentada no vagão rumo ao centro. A capa do livro berrava: “Os segredos da mente milionária”, de T. Harv Eker.

Por educação, não meti o nariz na leitura da futura endinheirada, mas o título me fez lembrar na hora de um nobre amigo tricolor, que está sorrindo de orelha a orelha desde o último dia 23 de novembro.

Morador do Leblon, Gustavo é fluminense desde que engatinhava num tapetinho, e é um boa-praça de marca maior. Em casa, decidiu ligar a TV no Flamengo x River Plate (ele e o Brasil todo) sem muita esperança de que os argentinos fossem segurar a onda da equipe de Jorge Jesus, mas curioso para ver bom futebol.

Especialista em índices financeiros, probabilidades e os humores das bolsas de valores de Londres a Tóquio, meu amigo abriu uma cervejinha quando o River meteu seu gol, num improvável passe de carrinho com direito ao deixa-que-eu-deixo de William Arão e Gerson. O primeiro “vapo” era dos pintos.

Ali pelos dez minutos do segundo tempo, pouco antes de Franco Armani defender a bomba rasteira de Éverton Ribeiro, alguém informou: na casa de apostas, o Flamengo agora era zebra máxima. O título rubro-negro após 38 anos, com menos de 35 minutos para acabar o jogo, estava pagando aos apostadores sete para um. Cada dólar apostado no Mengo renderia sete!

Nosso profeta tricolor, numa tradição digna de Nelson Rodrigues, ligou para um amigo que conhecia melhor as mumunhas das apostas e disparou:

– Pode botar dez mil reais no Flamengo campeão!
– Hein?
– Você me escutou…

Putaquepariu, eu amo esse time, generoso a ponto de alegrar flamengos, tricolores, torcedores do Boca Juniors e quantos mais, tudo ao mesmo tempo – e em menos de cinco minutos.

Quando a jovem fechou o livro para saltar na Cinelândia, eu me aproximei e mandei:

– Psiu! Nosso bom T. Harv tem aí algum capítulo sobre como arrumarmos 10 mil tutus para apostar no Mengão? Só precisamos de 10 mil!

A mocinha deu um salto, ameaçou gritar pelo segurança e ocorre que ainda estou aqui, sem saber como tocar o projeto. E perdi uma sócia. Mas também, depois esse pessoal morre pobre, sem empreender, e vai chiar que não apareceu uma chance na vida, essa é a grande verdade.